sábado, 13 de dezembro de 2008
AGORA UM
e não ouvi as palmas
a platéia estava muda
ou não estava ali
o picadeiro se apagou
e senti medo do escuro
terça-feira, 2 de dezembro de 2008
REFORMA ORTOGRÁFICA
Marginalizado,
anda com o ponto nas esquinas
se fazendo de reticências.
domingo, 30 de novembro de 2008
CANÇÃO CINZA
As crianças das calçadas
são as flores do futuro.
O futuro do sol avermelhado
de fumaça de carro
e do cigarro na boca das flores.
As flores do futuro.
A igualdade é uma solução?
A auto-extinção.
Eu a vi sozinha
entre os prédios
feito bolha de sabão.
(plim)
terça-feira, 25 de novembro de 2008
DRAMA II
Não, não é isso...
As lágrimas vieram
e eu já estava ao chão.
Eu cantava
e memórias plimplintavam na pontinha do nariz.
A dor tomava meu corpo,
contorcia-me os rins.
Levantei cambaleante,
a cabeça girava.
Mal podia abrir os olhos,
a boca arreganhada cheia de dentes.
De repente,
senti o parapeito roçar-me o quadril.
E ganhei vôo.
Contorcia-me ainda quando do baque seco.
Houve-me tempo de ouvir um deboche:
"Esta louca se jogou às gargalhadas, feliz da vida."
segunda-feira, 10 de novembro de 2008
QUASE
desse quase sucesso.
Sou quase foda
no que quase faço
quase todo dia.
domingo, 9 de novembro de 2008
PORRA!
- Oi, mãe!
domingo, 2 de novembro de 2008
μ-CONTO
quinta-feira, 30 de outubro de 2008
A NOITE DA CEIA
Queimarei algodão em galho seco,
dançarei nu
sobre os cacos vermelhos das bolinhas
que minha mãe guarda desde o Natal de 83
e que deixarei cair de cima do guarda-roupas.
Enforcarei meu papagaio com uma corrente de lâmpadas acesas.
;
Acordarei por fim de jeans na minha banheira
recoberto com o delicioso chocolate Nestlé.
terça-feira, 28 de outubro de 2008
SIMPLICIDADE
São seis da tarde. O dia foi quente e interminável. Cláudio segue calmo, guarda-chuva em punho, fechado. Infinitas gotas chuviscam frescas. Ele não entende do que todos se protegem. A chuva é-lhe tão convidativa... Traz-lhe uma alegria pueril.
Noite feliz, noite feliz, ó Senhor, Deus do amor...
Canta alto. E recém é novembro.
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Cenas do próximo capítulo: TAPA.
quarta-feira, 17 de setembro de 2008
EXTRAORDINÁRIOS
"Eu tenho uma teoria. Os indivíduos se dividem em duas categorias: os ordinários e os extraordinários. Os ordinários são pessoas corretas que vivem na obediência e gostam de viver na obediência; já os extraordinários são os que criam alguma coisa nova, todos os que infringem a velha lei, os destruidores. Os primeiros conservam o mundo como ele é; os outros movem o mundo para um objetivo, mesmo que para isso tenham que cometer um crime."
(Sintese de Crime e Castido de Dostoievski por Nina, o filme)
Alguém aí já leu Meu Pé de Laranja-Lima? Claro que já, sempre tem um que leu... Não me lembro direito do final, só que depois da morte do Portuga, o Zezinho nunca mais volta a ouvir sua amiga de todas as horas, a plantinha ficou muda... Tudo porque a experiência de perder um amigo se torna tão insustentável e difícil pra superar que ele deixa de ser criança, num amadurecimento repentino e precoce!
Quando eu tinha uns 12 anos aconteceu a mesma coisa comigo... Calma, não que eu mantivesse contato com algum pé de limão ou coisa do tipo... tá certo que eu falava com a televisão, mas isso faço até hoje, minha mãe sempre acha graça disso e fica me zoando por ficar revoltado com o que acontece de ruim por aí. Na verdade, quem quase morreu nessa história fui eu! Tinha acabado de acordar e estava conversando com a empregada, que também acumulava o cargo de amiga nas horas vagas, nem tinha tomado café ainda, foi tudo tão rápido... Distraído, me apoiei na janela da sala, justo naquele vidro que estava trincado perto do espelho e de repente só vi o sangue jorrando do meu pulso. Anestesiei na hora. Fiquei bastante assustado. Me levaram rápido pro hospital e por pouco não fui pro beleléu! Foi nesse meio tempo, entre duas cirurgias e a recuperação dos movimentos da mão, mais ou menos uns seis meses, que aprendi que as coisas não acontecem só na casa do vizinho, tudo na vida tem suas conseqüências. Também resolvi aproveitar o máximo da vida e viver o quanto conseguisse, se possível passar dos cem...
Fui criado pra encarar a vida de frente, com responsabilidade e respeito por mim e pelos que me rodeiam. Talvez por isso e também por outros motivos que me sufocavam até bem pouco tempo atrás, sempre fui muito reservado, tentando esconder meus sentimentos, fechado, tímido, uma rocha. Como amigo sempre fui bastante dedicado e gente boa ou pelo menos é o que me dizem e o que sempre tento ser. No entanto, na hora de me expor era um desastre... Era não, ainda sou, tanto no amor quanto no âmbito profissional... Apresentar um seminário na escola era um sufoco, ficava muito nervoso e não adiantava ensaiar e ensaiar e ensaiar, era sempre difícil... Suava frio, tremia inteiro até pra ler uma resposta pra sala, gaguejava um monte.
Percebendo todo esse meu desespero pela dificuldade de me relacionar com o público e que isso já começava a me atrapalhar nos estudos, minha mãe me forçou a entrar no teatro, pra tentar desinibir e relaxar. Eu andava uma pilha por causa da universidade e não queria fazer mais uma coisa pra encher meu saco! Além do que achava que esse negócio de teatro era coisa de viado, que preconceito besta... Já tinha feito algumas peças no ginásio, nada demais, só alguns papéis meio calados e um tanto introvertidos. O tempo passou e acabei me esquecendo de como era bom fazer parte daquilo... Não nego que ficou aquela vontade, lá no fundo, de voltar pro palco e enfrentar o público novamente. Até comentei isso algumas vezes durante a minha adolescência, mas nunca imaginei que teria coragem um dia.
Esses tais comentários só viraram munição nas mãos da minha mãe. Ela me venceu com meus próprios argumentos. Fiquei sem ter o que retrucar. Fui contrariado pra maldita aula de teatro. Pro meu desgosto, ela estava certa, a aula foi demais. As pessoas, os professores, os exercícios, o ambiente, não via a hora de voltar na próxima semana. Tudo era tão diferente do novo ao qual tentava me acostumar e que sabia não ser um lugar onde me sentia bem, não tão bem quanto ali. A universidade me torturava, o curso era perfeito, mas as companhias muito diferentes do que imaginei. Comecei a me decepcionar com as atitudes de muita gente e a me isolar. Os poucos amigos que mantive por lá, e ainda os mantenho, eram bastante caseiros ou tinham outra vida fora, com amigos que não conhecia. O teatro era muito mais como no colégio, quando tudo era festa e onde conhecia gente com quem sintonizasse.
Logo comecei a espalhar raízes, criar laços. Fiz novas amizades, por sorte com as pessoas certas, estava mesmo precisando conhecer um grupo que soubesse conversar sobre qualquer coisa. Não importava, se surgia um assunto sério todo mundo sabia colocar sua posição sem ofender ninguém, mas se o negócio era falar besteira... aí ninguém nos segurava, era tanta bobagem, a gente se superava. Então vieram as primeiras festas, o gosto pelo vinho, as rodinhas de violão, aquelas baladinhas eletrônicas e o entrosamento foi aumentando. Logo já conhecia grande parte das pessoas que fariam a diferença pra mim num futuro próximo, porém incerto. Tá certo, eu também não ia com a cara de todo mundo, mas como ninguém é obrigado a agradar a todos, sempre mantive aquela velha política de boa vizinhança. Fui ficando. E ficando mais a vontade. Passou aquele deslumbramento inicial e comecei então a tomar gosto pela interpretação em si.
Foram tantas barreiras quebradas. A primeira vez que tirei a camiseta na frente dos outros foi um sufoco, morria de vergonha, e pensar que hoje troco de roupa em qualquer lugar. Cueca acabou deixando de ser só uma peça de roupa escondida e virou mais um artigo de vaidade, umas cores bizarras, a propósito a de hoje é vermelha... ou será a laranja? Me deixa ver... É a laranja mesmo...
E quando fiquei a primeira vez com uma menina da companhia... Não sabia como me portar, eu estava afim e sabia que ela também queria, mas nunca tinha ficado com ninguém com quem tivesse que encarar no outro dia, fiquei sem saber o que fazer! Muito burro, fingi que nada tinha acontecido... Eu tava muito inseguro, só tinha pose de descolado. Sei lá se ela gostou ou não... Só sei que ficamos bastante tempo sem tocar no assunto. Nunca disse pra ela, mas é a que beija melhor. Bom... tirando um certo beijo meio que roubado dentro de um certo banheiro feminino, mas vamos deixar isso tudo quieto, é tudo muito complicado de se explicar e estas histórias sempre podem comprometer alguém ou gerar atritos.
Só queria dizer que aqui encontrei amigos de verdade, pessoas que aceitam meus defeitos, opiniões e qualidades, em quem posso confiar, com quem poderei contar sempre, gente sincera e presente, companheiros pro que der e vier! Aqui reencontrei a criança que deixei lá atrás. Aqui pude entender a importância de ouvir e ser ouvido. Muito obrigado. Valeu por me mostrarem que ser diferente não é errado e que esta é uma das únicas regras sem exceção nessa vida. “Somos todos iguais e tão desiguais”, pena que uns se achem “mais iguais que os outros”. Desculpa Gessinger por usar seus versos, não tenho culpa de vários deles exprimirem o meu jeito de encarar a vida.
Obrigado Nascô pelas soluções de última hora.
Obrigado Murphy pelos tombos que sempre me ensinaram mais que meus acertos.
Obrigado Docol por me amparar sempre que chamei o Hugo.
Obrigado Mãe por me ensinar a ser correto e o caminho da retidão.
Obrigado Deus, valeu as oportunidades e desculpa a falta de tempo pra você ultimamente.
É sempre muito bom estar rodeado por pessoas que se importam com a gente. Não vou citar nomes, cada um sabe a importância que tem na minha vida. Quanto a isso sempre fui bastante transparente, talvez seja até um grande defeito meu. Não consigo esconder como estou me sentindo e acabo me dando mal por isso ou então magoando alguém que amo.
Daqui pra frente, não sei como vai ser. Tem gente que significa muito pra mim que nunca vou voltar a ver na vida, já passei por isso antes, sei como é. Mas deixa a vida nos levar, nossos caminhos são tão imprevisíveis, vai saber o dia de amanhã. Podemos até nunca mais vir a nos encontrar de novo, mas já valeu a pena... Está todo mundo guardadinho aqui dentro do meu coração.
Muito obrigado por me aturar e permitir que participasse da vida de vocês, mas principalmente... valeu mesmo por participarem da minha... Amo vocês!
(Texto escrito em novembro de 2005 para os Amigos da Roze, grandes pessoas que estarão sempre no meu coração. Encontrei novos irmãos desde então, mas os homenageados aqui me fazem muita falta. Este texto, sem que eu soubesse, foi-me apresentado em forma de leitura dramática por Tatiana Calixto, Natalia Sório e Renata Sagaz no Sarau de Fim de Ano da Cia. Teatro Vanguarda, apresentado no Teatro Adolpho Mello em dezembro de 2005. Foi a escrita deste texto muita primeira motivação a escrever toda sorte de letras espalhadas por este blog e outros papéis.)
quarta-feira, 13 de agosto de 2008
GINÁSTICA
uma reversão dupla prensada... sem salsicha
e um chupe-chupe de doce de leite grande.
Que difícil esse negócio de Olimpíada!
Dá uma fome...
domingo, 10 de agosto de 2008
INVERSAMENTE PROPORCIONAL
meio mulher, meio retângulo,
despreocupada,
parassimpática...
lambendo seu sorvete espiral,
enrijecendo meio mundo
sem nem perceber
um tico da intenção
pingada do todo
antônimo a si,
assintótica aos picos...
sábado, 19 de julho de 2008
MAL QUE SE QUIS, SAMARA ME QUIS
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Cenas do próximo capítulo: SIMPLICIDADE.
DIA CRIATIVO
e ler um livro...
treinar do violão
e, quem sabe ainda, bater um bolo pro café da tarde.
sexta-feira, 27 de junho de 2008
VÍCIOS OCULTOS
cores apertadas umas contras as outras,
amassadas em um vaso transparente.
Transparência que não traz beleza
sobre a mesa ao lado do computador.
O monitor global sem conexão,
Sem contato com o vasto irreal,
virtual dos dedos convulsivos.
- Conexão completada!
TAC-TAC-TAC-TAC-TAC-TAC
TAC-TAC-TAC-TAC-TAC-TAC
TAC-TAC-TAC-TAC-TAC-TAC
TAC-TAC-TAC-TAC-TAC-TAC
TAC-TAC-TAC-TAC-TAC-TAC
TAC-TAC-TAC-TAC-TAC-TAC
domingo, 22 de junho de 2008
PARA REMISSÃO DOS PECADOS
leio mofos de quem se foi
e legou boêmios derrotados incansáveis...
Caras como eu, ou não.
O ônibus já atrasa.
A música mofa não tira-me a atenção.
A cada página aumenta a angústia.
Quero o afago d'alguém
que adormeci e acordei e saí sem dizer palavra...
quinta-feira, 19 de junho de 2008
PÁGINA 256
O garçom já não estranha o livro
aberto sobre a mesa, como de costume.
Diversos tipos passam,
espremendo-se entre a mesa e o balcão.
Alguns riem-se, admirando
ali reunidos eu, a cerveja e o convidado da vez.
Hoje, Nelson Rodrigues.
O copo americano é posto.
Sem que me perceba,
o líquido amarelo-azedo-gelado é servido
e no déjà vu, estalo uma cara de “odeio espuma”
seguido do obrigado em meio sorriso.
Tomo dois ou três goles
e, concentrado, esqueço-me do mundo.
Mais alguns goles
e sinto a garganta atar em nó...
Repentinas lágrimas pingam do meu queixo
sobre a página esquecida.
Falta-me a resposta ao velho amigo, noite dessas:
“Onde foi que deixaste o brilho dos teus olhos?”
E não passo da primeira linha.
sábado, 14 de junho de 2008
L
Consome todo meu eu.
Abandono meu corpo em teus braços,
Torno-me inteiro alma e sentimento
Um só beijo meu
Consome todo o teu corpo.
Abandono meu eu em teus lábios
E tua alma torna-se sentimento.
Um só sentimento teu
Abandona-se em minh’alma.
Teus beijos consomem os meus,
Corpos resumem-se em lábios.
Teu corpo só,
Minha alma consome-se inteira...
Os lábios não tornam-se beijos
Apenas palavras em um orelhão qualquer.
Alma,
Sinto-me só nesses dias claros de sol.
Dias abandonados
Aguardando o resumo de nós...
quinta-feira, 12 de junho de 2008
HAIKAI PARA MEU AMOR
A esperança morre por último
e sozinha.
domingo, 8 de junho de 2008
CÉU DE LONA
Sonhava
um picadeiro giratório brilhante.
Era bonito:
Bastava fechar meus olhos e já me ria
o riso frouxo dos que vêem o palhaço triste se dar bem,
o riso sádico de quem é palhaço triste e se dá bem...
Nem sei se feliz girava só
ou s'então bailávamos
por trás das cortinas
de mãos dadas,
braços dados,
almas dadas.
De súbito, um susto.
Alvoroço.
De sonâmbulo, acordo.
O palco já não é circo,
não gira sem fusíveis.
A última chuva borrou meu sonho hidrocor.
quarta-feira, 4 de junho de 2008
DIAS ÚTEIS
pra um outro alguém, pra um outro lugar,
pra um outro eu, pra um outro você...
Deixar vazio o lugar que grilei
e, sem que pedisse, dei–te de bom grado.
Então deite a cabeça em meu peito num fim de tarde
e entrelace as pernas nas minhas...
Enquanto penso na vida, roube-me um beijo,
triste que seja,
e o transformarei em luz e flores soltas pela casa...
A mesma luz clara que jorra dos furinhos que o gato fez na cortina blecaute
e inunda o quarto de sábado.
Inunde-me então
com seus sorrisos em flor,
girassóis que murcharão ao fechar da porta
antevendo-me só cinco dias mais.
Segunda terça quarta quinta sexta.
segunda-feira, 2 de junho de 2008
ACRE, FOI.
Soaram-me acres suas palavras,
reações aos meus atos que nunca fiz
e que te fizeram acreditar que fiz
ou que assim preferi crer.
Magoado fiquei
e você não menos.
E logo a vida se encarregou de nós,
levou-nos distantes
ainda ralados, doloridos
feito capote de bicicleta.
A poeira então baixou,
a ferida cicatrizou
e deixou sua marca
pra eu nunca esquecer
que quem a fez foi alguém que amei.
Mas um lembrar feliz,
saudoso daquele que me construiu
e desconstruiu a seu gosto
e contragosto.
E sentir, só, vontade
de te ver e dizer:
Amigo, de cá um abraço!
E tomarmos aquela cerveja gelada
no beco do nosso passado.
domingo, 1 de junho de 2008
sexta-feira, 30 de maio de 2008
CIDADE FANTASMA
em seus carros último modelo.
Dói-lhes um sorriso sequer
e sobram palavras de respeito mútuo:
- Bom-dia.
- Bom-dia.
Sem pontos de exclamação.
Bons-dias secamente ditos de costas
de quem não dá a mínima para o outro.
E interrogações muitas.
A incógnita faz parte do dia
e povoa o sono daquele que acorda na noite suado
e assustado.
Porém,
de alguma sacada vê-se ainda
Claras almas raras passeando na multidão,
descobertas somente por olhos atentos,
escondidas em vestes sóbrias demais.
Tudo para que a inveja das outras almas
não acabe por simplificá-las
ao prematuro cinza das auras nubladas.
E eu continuo, procurando a faixa de pedestres
sob os carros último modelo.
sexta-feira, 23 de maio de 2008
LUAU
loiros de praia, ratos da areia.
Pegam onda e câncer de pele
vendendo colares de pedra-feijão.
Capitalistas,
adoram o Sol sem se proteger dos raios UVA e UVB
e também Jaci em rituais noturnos:
cauim,
bala
e imagens fotográficas de alta definição.
Tambores eletrônicos alucinógenos
(tumba lacatumba tumba-tá),
luzes psicodélicas anunciam a taba ao satélite nu
(tumba lacatumba tumba-tá).
Mil-olhos param
estarrecidos,
atentos à modelo tupinambá
FRENÉTICA
ao vestido colante, salto e óculos gigantes.
- Servido?
- Why not?
Gargalhadas bruxólicas rasgam o céu
em complemento ao som da tribo jovem.
Zum gali gali
gali zum
gali gali.
VOU TE CONTAR
fase estranha da vida
abraço-me em manequins de loja
e digo-lhes:
- Que bonito seu colar!
o papo é bom
e sua anacefalia é compensada
pela inutilidade das pessoas que só falam em tv...
zap!
quinta-feira, 22 de maio de 2008
SILÊNCIO
Da janela, a lua ilumina meu rosto,
passa pouco das quatro horas.
Procuro ouvir-te... nada.
Ecoa apenas o som dos carros rasgando a madrugada.
Levanto-me
e triste constato sua ausência.
Foste... roubou-me um beijo talvez?
Não me resta lembrança de tão doce despedida.
Deito-me e adormeço na incompletude da escuridão da noite.
quinta-feira, 1 de maio de 2008
INOXIDÁVEL
- O Antônio não gosta de mulher!
Essa é a frase que mais se ouvia pelos corredores do supermercado onde trabalhava seguida de risos contidos que o desconcertavam ao passar. E como as pessoas nunca estão felizes em cuidar de suas próprias mazelas, adoravam cuidar da vida de Antônio. Em catorze anos de dedicação, seus colegas de trabalho nunca o viram com uma mulher. Nem como namorada, nem como amiga. Aliás, Antônio não tinha amigos e ninguém sequer sabia onde habitava este estranho quarentão. Chegou até a sair com algumas garotas, mas estas não o completaram.
De qualquer forma, Antônio não era gay. Esses burburinhos maldosos sobre sua sexualidade o remetiam aos tempos de ginásio, quando os rapazes do futebol insinuavam, vez que outra, que iriam “pegá-lo” de jeito depois da aula. O que nunca realmente aconteceu e sempre o amedrontou. Esgueirava-se tentando se esconder com os cadernos ao cruzá-los pelo corredor do colégio. E que secretamente também atiçou-lhe a curiosidade. Saiu então com alguns rapazes, mas estes também não o completaram.
Somente uma coisa o excitava. Em seus dias de folga, Antônio maquiava-se lascivamente, colocava um vestido colante, peruca e chapéu. Assim, saía em busca de uma construção qualquer. Enrijecia-lhe ouvir os assobios e cantadas rústicas dos pedreiros sujos de trabalho. Tornava-o inoxidável.
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Cenas do próximo capítulo: MAL QUE SE QUIS, SAMARA ME QUIS.
domingo, 13 de abril de 2008
SILICONE FASHION DE MÉDIA IDADE
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Cenas do próximo capítulo: INOXIDÁVEL.
domingo, 6 de abril de 2008
COR DE BURRO QUANDO FOGE
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Cenas do próximo capítulo: SILICONE FASHION DE MÉDIA IDADE ou A BESTA-FERA PÓS-MODERNA
quarta-feira, 2 de abril de 2008
DE VERGONHA, ME ESCONDA
O rubor ante a diferença é fato. Diferença esta que buscamos a todo custo num shopping apinhado.
- Milk-shake de ovomaltine 700 ml.
- Chapeuzinho xadrez das passarelas de São Paulo.
- Roupinha descolada na liquidação da Renner.
- Colar de semente do hippie do terminal.
Gana tamanha que gera apenas indiferença ao nosso ensimesmado redor. Pois por mais que você ouse, dificilmente terá qualquer coragem de ultrapassar a linha onde a diferença faz diferença e te torna extraordinário. Dostoievski estava certo. Medo e culpa consomem essa forma amenizada frente ao rótulo normal. E esta procura te molda, plágio incansável. Síndrome de Warhol.
Continue, caro vidro de palmito. E não pense. Apenas isso.
Se esconda nesse sanatório de muitos andares.
Retrocesso.
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Cenas do próximo capítulo: COR DE BURRO QUANDO FOGE
SOBRE COMO FICAR IDIOTA E COMO FIQUEI ASSIM
Vejamos:
8,8 h/dia x 5 dias/semana = 44 h/semana
Ou seja, quarenta e quatro horas semanais de trabalho robótico-legislado. Quarenta e quatro horas de estupidez, banalidades e bossalidade intranet. Quarenta e quatro horas de risos contidos quando o chefe não está.
Quarenta e quatro horas.
Tudo para ganhar depois de cento e setenta e seis horas um salário que será rateado para todos os seus satisfeitores de vontades. Consumismo glório-santo-propagado pelo eletrodoméstico de plasma pendurado na parede da sala, o qual resta dezoito prestações com juros de um e meio por cento ao mês a pagar.
É matemática básica, pura e simples.
Mas a merda toda se dá quando você não consegue mais um papo extraempresarial. E se pega pensando meia hora antes de passar seu crachá “Hoje tenho uma reunião às uma e meia”. ÀS UMA E MEIA. O caso agora é Português. Cadê todo o conhecimento adquirido, todos os livros lidos e vocabulário desenvolvido?
Quedê?
Tudo anulado pelo convívio despreocupado com os desprovidos.
Então estabelece-se o crítico. Caos. Oito graus na escala Richter. Comer de colher já te é comum. Deus! Alguém?
Ai meu fígado, isso nem dói mais...
Porque agora você vive num casulo. Com sorte seu comprometimento te levará pro trabalho nos domingos também. E você se aposentará e poderá então viver sua vida...
Vida!
Quero a minha agora... traz o conhaque que eu levo a cerveja!
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Cenas do próximo capítulo: DE VERGONHA ME ESCONDA.
FASE FÚTIL LOG
Antes que me estresse, prefiro viver essa fase fútil anti-criativa em minha plenitude...
A regra é postar o que der na telha em português claro e pisca-alerta, uma autofagia moral, reconstrução exorcista do id servido em plástico bolha...
QUEM SABE SOBRA ALGO INTERESSANTE NISSO TUDO!
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Cenas do próximo capítulo: SOBRE COMO FICAR IDIOTA E COMO FIQUEI ASSIM.