quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

MORTO

.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

GATOSSAPATO

fiz do meu gato rajado
um sapato sem brilho
fosco batido
um nó no cadarço
prum lado pro outro
rosnando largado
com fome de terra
ração de sapato
calçado calçada
e ele descalço
pisando a poeira
arisco correndo
ralo sem som
tocaia bem feita
e calo + calo
me calo de arrasto
com dor na canela
apunhala o piso
furando lajota
rola na areia
desce que sobe
equilibra a carcaça
do alto um salto
e pousa de pé
pra mãe não morrer
de barriga no chão
no meio do quarto
jogada com os outros
preguiça vírgula
friagem no pé

- Vai botar um chinelo, menino!

segunda-feira, 19 de julho de 2010

MEU CACHORRO

foi indo indo e iu
ninguém nunca mais viu

terça-feira, 16 de março de 2010

RAPID EYES MOVEMENTS

Sonhei outra vez com vampiros. Com vampiros e o menino de olhos de vidraça na montanha russa. Não sei se essa enchente telecinematográfica que nos invade sem que possamos ao menos fugir ou alienar ou então o que me faz sonhá-los, mas estou incomodado com tudo. O garoto está sempre lá, na fila da montanha russa com seus amigos também amigos meus. Ele tem vidraças no lugar dos olhos, vidraças que transparecem lindos campos de flores coloridas. A paisagem da vidraça é a mesma de sua camiseta, numa estampa aquarelada quase brega quase quase. E ele parece feliz com sua franja caidinha sobre a testa. Fico olhando o garoto. Observando-o. E o pesadelo começa a se delinear. Não consigo entender como alguém pode mutilar-se dessa forma. Tirar os próprios olhos e no lugar instalar duas grandes vidraças quadradas não parece algo certo. E como sorrir assim frouxo sem nunca mais poder ver seu irmão, cachorro, livros, amigos ou que seja um filme ruim no Supercine? Não enxergar o céu nublando depois de um dia abafado, nem os carros ao atravessar a rua? Não, não me parece certo esta estética deturpada. O cosplay extremista ainda ri com os amigos também meus amigos e não me vê. Seu riso parece macabro e me arrepia o corpo todo – imagino que nessa hora meu corpo estivesse todo arrepiado na cama – em calafrios desde a boca do estômago e esôfago acima. E busco não olhá-lo. Temo que me note. E me escondo apavorado. Até que, enfim, subo a montanha russa. O carro parte e passa rápido por túneis rodoviários, escuros das lâmpadas dos postes queimados. As poucas luzes tornam-se flashs e flashs do garoto escabroso que faz me escantear sem ao menos saber que estou lá.

É tamanho o medo que acordo. Acordo em meu quarto penumbrado da tarde amarelada. Mas não é meu quarto, este aqui. É o quarto de quando era pequeno. Minha cama, a cômoda, a cama da mãe, o quadro do anjo da guarda pendurado sobre a cabeceira e os dois homens nus mortos no chão. Acordo dentro do sonho. Levanto-me com uma enxada nas mãos e de repente lembro do ocorrido de antes de dormir que não foi sonhado, mas era como se tivesse sido. Devo enterrá-los no chão do quarto. Quebrar o azulejo, cavoucar e enterrá-los lá. Não quero fazer, pois sei que se tornarão vampiros e me devorarão ao acordar. Sou, contudo, impelido por uma força fora de meu controle. Sinto um olhar me dominar de fora da janela, a minha reveria. Novo arrepio. O rei tirano dos carniceiros me domina. Quer que enterre meus algozes ainda mortos. Fico ali parado. Titubeio. Quero fugir e minhas pernas parecem não buscar o mesmo. Suo. Olho, mas não o encaro. Medo filho da puta.

Sabe-se lá porque, venço a força do vampirão e saio porta afora correndo em um campo bem menos inspirador que o das vidraças do garoto. Um novo flash do garoto. Corro. Corro. Corro até um casebre numa terra não estranha – de um filme, outro sonho ou de alguma chácara talvez. Entro na casa. De dentro percebo as paredes, não há mata-juntas, formando largas frestas.

Acordo novamente. Dessa vez de verdade. Assustado. Está frio. Puxo a coberta e volto a dormir. Novamente a casa. Há outros comigo. Atormentados. Amontoados. Esgueirando as frestas, vigiando o obscuro horripilante. As janelas estão trancadas e pregadas, as portas idem. Entretanto, a falta de mata-juntas nos deixa vulneráveis ao mal que espreita e segue. O medo coletivo transcende em pânico quando no céu surge uma figura pavorosa. Uma vampira medonha, provável cruza da sereia de Manaus com as figuras bruxólicas do Franklin Cascaes. Nesta altura já sei que é sonho e quero acordar. O pavor toma conta. A gargalhada cadavérica regela meus ossos (os de verdade também). Quero acordar. Quero acordar. Acordo. Ufa! Confiro a hora no celular. Ainda não é hora de levantar. Fecho os olhos. A vampira bruxólica. Acordo-assusto. Respiro. Fecho os olhos. O garoto dos olhos de vidraça. O vampirão me fuzilando. Acordo. Falta meia hora. Melhor esperar acordado. E viro de lado – parece estranho e sem nexo, mas o que que eu posso fazer?, foi isso assim que aconteceu.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

DOIS NO SOFÁ (9)

(toc toc)
- Pof.
- Eeeei! Foi da porta, agora!
- Vai atender, então.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

DOIS NO SOFÁ (8)

- Ahauahuahu!
- Não to rindo.
- Tá bom, parei.
- Vai se foder.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

DOIS NO SOFÁ (7)

- Idiota.
- .
- Não vai dizer nada?
- Toc toc.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

DOIS NO SOFÁ (6)

- Pow!
- Soc.
- Tum.
- Manhêêê

domingo, 21 de fevereiro de 2010

DOIS NO SOFÁ (5)

- ...
- Não vai dizer mais nada?
- Toc toc.
- Pof!

sábado, 20 de fevereiro de 2010

DOIS NO SOFÁ (4)

- Toc toc?
- Pof!
- Eeeei!!!
- Eu avisei.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

DOIS NO SOFÁ (3)

- Toc toc!
- Pof...
- Como assim POF?
- Vai ser o som da sua cabeça, se você não parar.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

DOIS NO SOFÁ (2)

- Toc toc!
- Quem é?
- Sou eeeuu!!!
- Vai se foder.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

DOIS NO SOFÁ (1)

- Toc toc?
- Entra, tá aberta...
- Não é assim, tem que perguntar quem é!!!
- Vai se foder.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

FEITIÇO PRA PASSAR O CALOR

Você precisará de:

- 01 toalha virgem vermelha;
- 200 ml de água buricada;
- 01 geladeira;
- 01 computador;
- mármore a gosto.

Pegue a toalha e encharque-a com a água buricada, torcendo-a após para retirar o excesso. Abra a geladeira e a coloque dobrada em quatro no congelador. Reserve. Ligue o computador e conecte a internet. Acesse o youtube, selecione um video e espere carregar. Enquanto carrega, retire a toalha, abra-a e bata-a com força contra o mármore da pia gritando o mais alto que puder "Sai calor do inferno! AbandONA!". Faça isso três vezes para quebrar o gelo. Após, abra a toalha, coloque sobre a cabeça e se refresque vendo o video muito provavelmente imbecil-inútil-não-tô-a-fim-de-pensar-suando-assim. Repita quantas vezes achar necessário ou até que chegue uma frente fria.

domingo, 10 de janeiro de 2010

FÉRIAS

Aiai, fim de férias... Pasmaceira, dorminhocagens e nada pra fazer: me obriguei a inventar! A rota Assis-Floripa permaneceu apesar dos meus intentos em conhecer a capital argentina. Assis mesmo viu minha cara só no terceiro dia, cheguei lá e saí da tumba, de leve... fiquei meio em volta da cova fazendo bolhas de sabão. Criança em casa é isso. Carrinhos, música e chinelo. Ah, Samuel! O nome mais doce das férias. Esteve na boca de todos o tempo todo. Em gritos e sustos. Tão doce quanto Lua Nova. Fui ver essa porcaria. Tristeza. Saí diabético do cinema. É muito açúcar de uma só vez. Mas Avatar salvou. Vi três vezes. E o que dizer? 3D é melhor que 2D. Maravilha! E fora da festa família de Natal e o Revéillon ginasial com amigos que já não via a séculos, li. Li horrores. Li Vazados e Molambos da Laura Erber que ganhei no Página Aberta ano passado - aliás o único, prometeu e morreu, será que volta esse ano? - e Pedro Páramo do Juan Rulfo, grande indicação do Gelson! Ainda comecei a ler Todas as cosmicômicas do Ítalo Calvino... achei bem mais ou menos, enfim!, vou terminar pra ver qualé. Empolgação mesmo é Glee. Viciante! Ouço e vejo os clipes todo dia... Saquinho! E por causa disso ainda to tocando Halo no violão. Eu mereço! Ahuahauhauhauahhu. E jogar uno. Ah, vai se foder! Só cocei essas férias. Ainda escrevi esses dois textos aí embaixo que nem gostei tanto. Dane-se ( ). Ah, tão vendendo o Sins! Podia comprar e mudar de vida... Ou mudar pra vida, que to pra morte aqui. Chega, cansei.

FELIZ NATAL

(um pouco atrasado eu sei)

O ator preparava-se no camarim. Ansiava o momento. Os refletores o esperavam para o teatrinho de fim de ano da escola de artes. Sentia algum orgulho em ser alguns instantes figura tão importante do imaginário infantil. Algo pueril até. Maquiou-se. Vestiu a roupa carmim. A barba branca, a peruca branca. E o gorro. Estava quente, era dezembro e o ar condicionado não dava conta. Suava em bicas. Sem problemas. O ruído das crianças, risos não contidos nas cochias, o excitavam ainda mais. Desejara o ano todo ser o gordo vermelho. “Merda”, desejou entre duendes e fadas em abraços acalorados no interior do camarim. E a porta foi aberta. “5 min.” alguém gritou de fora. O bom velhinho riu-se e saiu da antecâmara. Sorria feliz. As crianças logo o perceberam. Houve gritaria. Eeeee. Investiram sobre o rapaz. Nem deu tempo. “Ho-ho-ho!”. Foram suas últimas palavras. Fora devorado pelo corpo de balé infantil.

TANTO FAZ

Abriu o registro e a água desceu limpa, refrescando o corpo quente do dia quente. Sabia do desperdício. Não duraria muito. O banho. A água. E tudo. Pensou em deixar um registro do prazer de um banho e escrever laudas e mais laudas sobre o assunto, mas quem tem tanto assunto sobre banho? Talvez sobre água haveria, mas deixaria de ser manifesto, tornaria dissertação e ninguém tem mais paciência para dissertações e mestrados e doutorandos em água química, benta, biológica. Logo nem haverá água. Nem papel para dissertações sobre água. Nem árvores. Tanto faz. Tanto faz se a MTV acha o Eminem inteligente e a comunidade gay não – esses preferem a Beyoncé. E de novo tanto faz. Não haverá mais quem leia os manifestos. Ou os faça. Melhor assim. No silêncio a cura virá.

SIGAM-ME OS BONS!