sexta-feira, 27 de junho de 2008

VÍCIOS OCULTOS

Bolas azuis e alaranjadas,
cores apertadas umas contras as outras,
amassadas em um vaso transparente.
Transparência que não traz beleza
sobre a mesa ao lado do computador.
O monitor global sem conexão,
Sem contato com o vasto irreal,
virtual dos dedos convulsivos.

- Conexão completada!

TAC-TAC-TAC-TAC-TAC-TAC
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domingo, 22 de junho de 2008

PARA REMISSÃO DOS PECADOS

Em pé
leio mofos de quem se foi
e legou boêmios derrotados incansáveis...

Caras como eu, ou não.

O ônibus já atrasa.
A música mofa não tira-me a atenção.
A cada página aumenta a angústia.

Quero o afago d'alguém
que adormeci e acordei e saí sem dizer palavra...

quinta-feira, 19 de junho de 2008

PÁGINA 256

- Uma cerveja, por favor.

O garçom já não estranha o livro
aberto sobre a mesa, como de costume.

Diversos tipos passam,
espremendo-se entre a mesa e o balcão.
Alguns riem-se, admirando
ali reunidos eu, a cerveja e o convidado da vez.
Hoje, Nelson Rodrigues.

O copo americano é posto.

Sem que me perceba,
o líquido amarelo-azedo-gelado é servido
e no déjà vu, estalo uma cara de “odeio espuma”
seguido do obrigado em meio sorriso.

Tomo dois ou três goles
e, concentrado, esqueço-me do mundo.

Mais alguns goles
e sinto a garganta atar em nó...
Repentinas lágrimas pingam do meu queixo
sobre a página esquecida.

Falta-me a resposta ao velho amigo, noite dessas:
“Onde foi que deixaste o brilho dos teus olhos?”

E não passo da primeira linha.

sábado, 14 de junho de 2008

L

Um só beijo teu
Consome todo meu eu.
Abandono meu corpo em teus braços,
Torno-me inteiro alma e sentimento

Um só beijo meu
Consome todo o teu corpo.
Abandono meu eu em teus lábios
E tua alma torna-se sentimento.

Um só sentimento teu
Abandona-se em minh’alma.
Teus beijos consomem os meus,
Corpos resumem-se em lábios.

Teu corpo só,
Minha alma consome-se inteira...
Os lábios não tornam-se beijos
Apenas palavras em um orelhão qualquer.

Alma,
Sinto-me só nesses dias claros de sol.
Dias abandonados
Aguardando o resumo de nós...

quinta-feira, 12 de junho de 2008

HAIKAI PARA MEU AMOR

Espero... espero...
A esperança morre por último
e sozinha.

domingo, 8 de junho de 2008

CÉU DE LONA

(Para a ida de alguém que não foi)

Sonhava
um picadeiro giratório brilhante.

Era bonito:
Bastava fechar meus olhos e já me ria
o riso frouxo dos que vêem o palhaço triste se dar bem,
o riso sádico de quem é palhaço triste e se dá bem...

Nem sei se feliz girava só
ou s'então bailávamos
por trás das cortinas
de mãos dadas,
braços dados,
almas dadas.

De súbito, um susto.
Alvoroço.
De sonâmbulo, acordo.

O palco já não é circo,
não gira sem fusíveis.

A última chuva borrou meu sonho hidrocor.

quarta-feira, 4 de junho de 2008

DIAS ÚTEIS

Tenho medo de te perder
pra um outro alguém, pra um outro lugar,
pra um outro eu, pra um outro você...
Deixar vazio o lugar que grilei
e, sem que pedisse, dei–te de bom grado.
Então deite a cabeça em meu peito num fim de tarde
e entrelace as pernas nas minhas...

Enquanto penso na vida, roube-me um beijo,
triste que seja,
e o transformarei em luz e flores soltas pela casa...
A mesma luz clara que jorra dos furinhos que o gato fez na cortina blecaute
e inunda o quarto de sábado.
Inunde-me então
com seus sorrisos em flor,
girassóis que murcharão ao fechar da porta
antevendo-me só cinco dias mais.

Segunda terça quarta quinta sexta.

segunda-feira, 2 de junho de 2008

ACRE, FOI.

(Para Valle)

Soaram-me acres suas palavras,
reações aos meus atos que nunca fiz
e que te fizeram acreditar que fiz
ou que assim preferi crer.

Magoado fiquei
e você não menos.

E logo a vida se encarregou de nós,
levou-nos distantes
ainda ralados, doloridos
feito capote de bicicleta.

A poeira então baixou,
a ferida cicatrizou
e deixou sua marca
pra eu nunca esquecer
que quem a fez foi alguém que amei.

Mas um lembrar feliz,
saudoso daquele que me construiu
e desconstruiu a seu gosto
e contragosto.

E sentir, só, vontade
de te ver e dizer:
Amigo, de cá um abraço!

E tomarmos aquela cerveja gelada
no beco do nosso passado.

domingo, 1 de junho de 2008

ACEITAÇÃO

.
















Amém.

SIGAM-ME OS BONS!