quinta-feira, 1 de maio de 2008

INOXIDÁVEL

- O Antônio não gosta de mulher!


Essa é a frase que mais se ouvia pelos corredores do supermercado onde trabalhava seguida de risos contidos que o desconcertavam ao passar. E como as pessoas nunca estão felizes em cuidar de suas próprias mazelas, adoravam cuidar da vida de Antônio. Em catorze anos de dedicação, seus colegas de trabalho nunca o viram com uma mulher. Nem como namorada, nem como amiga. Aliás, Antônio não tinha amigos e ninguém sequer sabia onde habitava este estranho quarentão. Chegou até a sair com algumas garotas, mas estas não o completaram.


De qualquer forma, Antônio não era gay. Esses burburinhos maldosos sobre sua sexualidade o remetiam aos tempos de ginásio, quando os rapazes do futebol insinuavam, vez que outra, que iriam “pegá-lo” de jeito depois da aula. O que nunca realmente aconteceu e sempre o amedrontou. Esgueirava-se tentando se esconder com os cadernos ao cruzá-los pelo corredor do colégio. E que secretamente também atiçou-lhe a curiosidade. Saiu então com alguns rapazes, mas estes também não o completaram.


Somente uma coisa o excitava. Em seus dias de folga, Antônio maquiava-se lascivamente, colocava um vestido colante, peruca e chapéu. Assim, saía em busca de uma construção qualquer. Enrijecia-lhe ouvir os assobios e cantadas rústicas dos pedreiros sujos de trabalho. Tornava-o inoxidável.


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Cenas do próximo capítulo: MAL QUE SE QUIS, SAMARA ME QUIS.

Um comentário:

Personagem Fictício disse...

Preciso da continuação.
Samara te quis?
Preciso dela!

SIGAM-ME OS BONS!