domingo, 29 de novembro de 2009

A MENINA E O VENTO

Semana passada apresentamos o resultado de poucos intensos cansativos meses de trabalho. Fizemos quatro apresentações da peça "A Menina e o Vento" de Maria Clara Machado para cerca de 400 pessoas, em sua maioria pequeninas pessoas, claro (que medo delas!). Só de lembrar me dá aquele friozinho na barriga. Criança é ótemo! A resposta do trabalho é imediata. E elas gostaram, apesar de sabermos que ainda há bastante trabalho pela frente. Vamos melhorar muito ainda. Ai, já bateu saudades. Descansar que nada, quero voltar a apresentar, mas agora só ano que vem. 2010. Ano de muitos projetos. Uma hora posto um balanço desse ano que tá acabando. Pessoal, é muito bom trabalhar com vocês todos. Vai uma fotinho do Gil comigo, ou melhor, do Pacífico com o Comissário Plácido numa das apresentações. Perfeita, créditos pro Chan.


A direção corre por conta da Ana Paula Moretti e no elenco (na foto abaixo da esquerda para a direita) Maykon Junkes, Felipe Schlichting, Leonardo Neckel, Gil Mathias, Débora Martins, Fabíola Deretti, Fabiana do Rosário, Alex Girardi, Dandara Mendes e Fred Paiva (eu \o/). A iluminação é do Giba (Gilberto Amaro). Já figurinos e maquiagem são obras de Lucas David.


Aiai, chega ano que vem!

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

A MANHÃ SEGUINTE

Observava-as, ainda, lesmolivas na brita. A lua quase transparecia alta no azul. Verruga do céu, observava eu e a putas capotadas. Montinhos. Somente uma desperta, florescia na calçada, sentadinha, desgrenhada. Tomava café preto. Ou coca-cola. Não sei. Só sei que era preto. E não me via no beiral do terceiro piso. Se me viu, não se importou, não fiz a diferença na manhã recém-nascendo. E daí? A bicha calou-se, isso é que importava. Devia estar bêbada jogada sobre a mesa. Quem sabe caiu bêbada lá de cima e perdi o show. Aos ouvidos somente a brisa fria e um barulhinho insistente de pedra de isqueiro gastada. Ai, que saco. Virei-me e dei com ela sentada no chão, atrás de mim. Lápis borrado, batom manchando o cigarro meio queimado amassado na boca. Catou do chão, de certo. Ela me olhou nos olhos e continuou batendo a pedra. “Saiu do transe, xuxu?”. “Hum”. “Tem fósforo?”. Vasculhei os bolsos e atirei-lhe a caixinha. E ela desatou. Fofalava, ininteligia qualquer nada com aquele cigarro apagado na boca. Não queria conversar. Não estava afim. Arqueei a vida, deixei cair-me, estatelei no orvalho, regozijado. Ainda deu tempo de olhar pro alto e ver meu corpo sentado na gradinha, suplicando pela queda.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

CHANSON GRISE

Les enfants aux trottoirs
sont les fleurs du futur.
Le futur sous le soleil rouge
A la fumée des voitures
E des cigarettes a la bouche des fleurs.

Les fleurs du futur.

L’egalité, c’est l’une solution?
L’auto-disparition.

Je l’ai vu seule
parmi les bâtiments
comme bulle de savon
(plim)


PS.: Letra musicada por Suelen Rocha. Postei a versão em português anteriormente (Canção Cinza).

domingo, 8 de novembro de 2009

MORAR SOZINHO

(entra rapaz com vassoura na mão, varrendo o chão)

Morar sozinho é foda! Porque quando a gente divide apê, beleza! Tem um dia de limpar a casa, o banheiro fica mais ou menos limpo. Pelo menos a parte comum da casa fica organizada. Existe uma democracia ou uma burocracia ou uma guerra fria.

Agora, quando a gente mora sozinho vira um caos, porque sempre deixamos as coisas pra fazer depois. E sempre fica pra bem depois. A gente fica se enrolando e nunca faz.

Esses dias fui botar a roupa pra lavar. Ao abrir a máquina, percebi que tinha um monte de roupa já batida lá! Cara, eu nem lembrava quando foi que eu tinha colocado aquela roupa pra bater. Talvez tenha sido minha vó que veio me ver umas duas semanas antes. Ela até falou alguma coisa de roupa, mas eu sinceramente achei que era eu tirar a que estava no varal. Aliás eu não tirei, já choveu umas três vezes e a roupa continua lá, descorada do sol.

Enfim, atrás da porta do meu quarto tem uma cadeira onde eu empilho as roupas pra passar. Se preciso pegar uma roupa pra usar, das sem passar, claro, (aliás eu nem sei pra que eu faço uma pilha de roupas pra passar se nem ferro eu tenho! Que seja!) eu olho a pilha e resolvo que quero vestir aquela lá de baixo.Daí, antes de puxar, eu levanto um pouquinho as de cima e puxo, e as de baixo caem! Ah, na pressa nem junto do chão, ou pego embolado e só jogo por cima do monte. Numa hora dessas vai voltar tudo pra máquina mesmo.

Lavar louça é outro martírio. Já nem tenho garfos limpos! Então olho aquela monte de louça suja, quase perco a vontade de comer, ou de caçar um garfo naquele lixão. Quase! Pego então o que quero usar e lavo no tanque, porque não alcanço mais a torneira embaixo da louça. Depois só devolvo sujo pro monte.

Ainda se só eu sujasse, mas eu também tenho um gato. Tem dias que ele resolve atentar as aranhas do teto. Ele vem correndo e sobe na cortina até se pendurar no varal e pula. Um dia ele se desequilibrou.Ee no que desequilibrou, caiu. E trouxe junto na unha uma tira da cortina, de cima a baixo! Bom que agora eu tenho duas cortinas.

E o gato, não contente, derrubou o saco de areia no chão da lavanderia enquanto eu estava fora. E cagou em cima da areia! Eu só olhei e suspirei, afinal já tinha um cheiro e esgoto saindo do ralo mesmo. Foi pra combinar!

Ai, cansei!Quer saber?! Acho que vou tirar um cochilo. Depois eu limpo o resto...

domingo, 4 de outubro de 2009

SABATINA

"Relaxa, vai com calma", laralava o viadinho sentado sobre a mesa num falsete de enraivecer muita soprano superstar. Mas elas riam falso e alto na festinha. Eu queria mandá-lo tomar no cu, mas era capaz dele gostar da ideia e ficar incomodando, então resignei-me a observar da sacada o movimento na uisqueria da vizinha. Na mão um copo com gelo, só gelo. Na boca, a língua adormecida formigava ao sabor do conhaque forte e brincava com o líquido até não aguentar mais e rasgar o esôfago, úvula abaixo. Estava alheio à festa. De costas pra ela. Somente os gritinhos da bicha burra me traziam a tona e logo mergulhava novamente em mim e no movimento lá fora. As putas corriam no quintal. Corriam seminuas entre os carros estacionados e se davam para os peões famintos de buracos úmidos. Pareciam felizes e urravam felizes. Não sei dizer se também estava, mas sentia-me quimicamente assim. Atraído, subi na gradinha e pulei. Não, não pulei, mas queria. Só sentei-me na grade e observei. Precisava mais conhaque, mas se cruzasse a bicha rumo à garrafa, daria-lhe com o copo na nuca até que aprendesse a falar que nem homem. Fiquei lá, então, olhando as putas.

sábado, 26 de setembro de 2009

TEMPO

"Estou cansado", repetia diversas vezes ao dia, indiscriminado, descompassável, entrelinhas 1,5. Nem sei se realmente estava cansado ou se estava acostumado a dizer que estava ou se estava acostumado a se sentir assim, cansado. Ou a vida lhe cansava mesmo, pode ser. Tantas reponsabilidades. Todos os compromissos marcados na agenda preta, padrão da Tilibra. Tudo. Queria um tempo disso tudo. Precisava dar um tempo disso tudo. Manter-se só, ermitão. Uns dias, que fosse. Agorafóbico em si. Pisar a terra descalça, tomando a brisa fresca, pouco úmida da manhã. Ver o tempo-espaço passar-ruindo. Sem devidas providências. Em off. O2. CO2. O2. CO2. Até cansar-se disso também. Esgotar.

sábado, 19 de setembro de 2009

NOITE

enfim
nem tomei banho ainda
só de manhã
e to de sapato desde de manhã
comecei a assistir cinema, aspirinas e urubus
mas não gostei
mas vou terminar de assisti-lo
depois em Assis
na verdade queria tomar uma cerveja
e dançar um pouco
e ver gente
e sentir a brisa fresca do ar condicionado nas costas
me resfriando
as narinas, claro
---
pulei
pronto
e caí de cabeça
num cocozão de cachorro, fumegante
um cocozão de cachorro quente
aqui tá quente e tá foda
vou abrir a janela
e derrubar água na goela
você me mata e uma súbita inspiração bateu na porta
era o amigo chato
do namorado
do vizinho
do andar de cima
numa hora dessas?
isso me mata
me rala a paciência e mói os miolos
no sábado à noite sem nada
sem nata sem pão

- Não, não tenho açúcar!
nem sal
nem saco de aguentar mais uma madrugada no msn
com a cam desligada
ponto final

QUICK TALK

- Sabe aquele cara? Aquele de preto?
- Que que tem ele?
- Está enganando a namorada.
- Como você sabe?
- Só pelo jeito de andar!


(à Suelen)

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

QUINTA-FEIRA

Nem me falo mais nada. Nada.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

QUARTA-FEIRA

Sentei na vida, enganado. O que acontece se mudar de mesa?

terça-feira, 8 de setembro de 2009

TERÇA-FEIRA

Sou paradigma. Quebrado novamente faria sentido.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

SEGUNDA-FEIRA

Estou guardanapo. Não tem outro lugar.

domingo, 6 de setembro de 2009

DOMINGO

Olho para os lados. Só vejo pessoas.

sábado, 5 de setembro de 2009

SÁBADO

Estou suco de laranja. Preferia ser ovo frito.

domingo, 9 de agosto de 2009

INVARIÁVEL

Arrotava felicidade. A vida era presente. Cantava isso a quem quisesse ouvir - quem não quisesse que tapasse os ouvidos. E ria-chorava e tomava conhaque e cerveja e comia coxinha de ontem no bar reles. Jurava que em seu velório celebrariam tal intensidade e beberiam-lhe o corpo em brindes altos da cachaça branca.

Hoje, do sofá, ele sabe. Sim, morreu. Só, esqueceu de deitar-se.

MATAHARI

ACAPULCO, 1974

quinta-feira, 23 de julho de 2009

TIC TIC TIC

Mais que tic nervoso. O barulhinho feito com a bunda da caneta realmente o incomodava. Aliás, toda e qualquer atitude do animal de tetas da mesa ao lado o tirava do sério. Quer ver quando a fanha atendia o telefone.

- Casadasferramentasclaudeteboatarde-emquepossoajudá-lo?

Afetada! Atocharia algodões nas orelhas se não dasse tanto na cara. Um dia ainda a faria engolir aquela caneta.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

REPETITIVO

Não te fiz mais poemas.
Não há mesmo nada bonito a se dizer.

Tanto faz.

Espero-te sábados,
você não vem.
Choro seco,
você retruca.
Digo te-amo,
você quer ir.

Você na ofensiva,
eu na depressiva.

Isso cansa,

sábado, 28 de março de 2009

CRISE

Vou vender o corpo.
Vou ver os corpos passarem
por tostões,
poucos tostões.

Na pior das hipóteses,
me apaixono!

Vai saber.

segunda-feira, 23 de março de 2009

quinta-feira, 5 de março de 2009

CALOR

sábado, 21 de fevereiro de 2009

O ENTERRO DA TRISTEZA

O caixão desceu lacrado.
A alegria era tamanha... Desfigurara a defunta!

E a massa suava.
E a massa carpia.

Uma pá de terra.
Caía uma garoinha de confetes.
Mais uma. O cortejo já dispersava.
Uma gente em bloco, misturada.
Foram-se.


A morta posou lá.
No jazigo. Sob o epitáfio perpétuo:

Alalaô!

domingo, 15 de fevereiro de 2009

ORQUESTRA QUIETA

Onde estão os clarinetes?
Onde estão?

Onde fui parar?

Saí de cabeça quente.
Rumei ao beco do meu passado,
mas ele não é mais o mesmo!

Tocava sertanejo.
Eu não gosto de sertanejo.

A cerveja desceu-me triste e pelo copo.

Caminhei mais um pouco
e deparei com o casarão dos muitos fatos,
mas ele não é mais o mesmo!

Imponente ainda,
e agora com grandes "Aluga-se" pela fachada.

A vida desceu-me triste, goela abaixo.

Onde estão os flautins?
Onde estão?

Onde tudo foi parar?

Meia-volta. Chega do passado.

SIGAM-ME OS BONS!