quinta-feira, 19 de junho de 2008

PÁGINA 256

- Uma cerveja, por favor.

O garçom já não estranha o livro
aberto sobre a mesa, como de costume.

Diversos tipos passam,
espremendo-se entre a mesa e o balcão.
Alguns riem-se, admirando
ali reunidos eu, a cerveja e o convidado da vez.
Hoje, Nelson Rodrigues.

O copo americano é posto.

Sem que me perceba,
o líquido amarelo-azedo-gelado é servido
e no déjà vu, estalo uma cara de “odeio espuma”
seguido do obrigado em meio sorriso.

Tomo dois ou três goles
e, concentrado, esqueço-me do mundo.

Mais alguns goles
e sinto a garganta atar em nó...
Repentinas lágrimas pingam do meu queixo
sobre a página esquecida.

Falta-me a resposta ao velho amigo, noite dessas:
“Onde foi que deixaste o brilho dos teus olhos?”

E não passo da primeira linha.

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